São 5:30 da manhã e recebi uma visita inesperada: do medo, da ansiedade, da insegurança.
São 5:30 da manhã e eu não consigo dormir, mas faz parte, às vezes, eu não prego os olhos durante a noite toda; outras, eu me fecho em casa e passo o dia todo dormindo, literalmente, sem falar com ninguém, sem beber ou comer, só dormindo. E se eu acordar, eu vou dormir outra vez.
Eu não como nada, ou como tudo a minha volta, às vezes, uma salada, às vezes, uma torta inteira. O conceito de valor nutricional foi pelo ralo; não se contam calorias a essa altura do campeonato, o que vier é lucro. Pode ser que eu só me lembre de comer porque já cheguei ao extremo e estou passando mal. Se eu tiver compromisso, eu acordo e desejo mais 5 minutos, esses 5 minutos duram mais tempo que minha última soneca. Tudo na minha vida passou a ser feito com um esforço surreal, seja do mais básico, como higiene, até as obrigações.
O que eu tinha mais prazer em fazer, que fazia com que a vida soprasse no meu rosto, é um esforço surreal.
Eu frequentemente me tranco no quarto, não vejo TV ou escuto rádio, não atendo a telefones nem à porta. Eu me tornei do tamanho da minha dor. Invisível. Às vezes, eu tento manter as atividades, mas sempre parece que estou com uma tonelada nas costas, e é superdifícil para mim. Às vezes, no meio da atividade, o sufoco vira um alívio e acabo saindo melhor do que entrei. Eu agradeço por esses dias.
Há dias que não aguento o tranco dos últimos meses e choro o tempo inteiro. Eu não aguento ver o mundo que construí com tanto esforço desabar, pedacinho por pedacinho. E choro.
Na maioria das vezes, é um choro sufocado no travesseiro, na madrugada, provocado até por aquela cena da novela que fez a garganta embargar.
Criamos estratégias para disfarçar a dor, não devíamos, mas nos acostumamos com a indiferença. Às vezes, eu consigo sorrir. Dizem que depressivos não sorriem. Enganam-se. É um vazio, uma angústia tão grande que a gente não sabe de onde veio, mas a gente sorri, e muito; às vezes, fazemos rir. A gente ri quando vocês perguntam: “Está tudo bem?”, quando a gente ouve que é frescura, falta de Deus ou que a pessoa é mal-amada, pois está há muito tempo solteira, etc. e tal. A gente ri para tudo isso.
Tudo é tão grande na depressão exatamente pelo nada ser maior ainda. Achava que era tristeza, mas é um nada exacerbado. E nada é pior que tudo. O silêncio da mente é perturbador, mata e nos faz nos perdermos. E sair desse labirinto é difícil e doloroso. Perdemos coisas, oportunidades e principalmente pessoas, essas últimas saem com sangue. Talvez não fosse tão ruim essa parte, olhando para o outro lado.
Quem não vê nosso choro não merece ver nosso sorriso. Por mais que doa, por mais que percamos mil pessoas, precisamos acreditar: aquele um que ficou é o que vai fazer a diferença. Aquele preparado para ouvir:
“Eu matei alguém” ou “Eu sinto vontade de morrer”.
“E, se sente tudo isso, por que não pede ajuda? Por que você não me falou?” É difícil pedir ajuda, porque, como eu disse, a gente se acostuma, não deveria, mas se acostuma com a dor. Além disso, para pedir ajuda, primeiro deve reconhecer o problema. Mas a gente não vê o problema, logo não pede ajuda. Ou tem vergonha de pedir, pois pode ouvir: “Você parece louca, sem Deus, amargurada, invejosa.” São tantas coisas que a sociedade impõe que resolvamos antes de pedir ajuda e nos esquecemos de que, para cada um, o mecanismo de enfrentamento é diferente.
É aí que entram em ação os sorrisos amarelos e vazios, mas que só quem se importa connosco vai perceber:
– Está tudo bem?
– Está! – com um sorriso amarelo.
Está tudo bem! Porque é mais fácil falar “Está” do que: “Não, não está tudo bem, eu estou surtando, a minha cabeça está queimando, eu não sinto nada, só dor. Estou há dias sem dormir direito, e na última semana eu passei mais tempo na cama do que em qualquer outro cômodo, faltei ao trabalho, compromissos, não fui ver o filho da minha amiga que nasceu… Cada osso do meu corpo dói, cada músculo do meu corpo está tenso, e isso me causa uma dor insuportável onde nem o mais potente dos analgésicos alivia. Então, meu único remédio é rezar para parar, nem que eu tivesse que morrer.”
O que mais dói é a indiferença, aos poucos as pessoas deixam de ligar para a gente, de procurar, de abraçar, e vão partindo como se fosse um brinquedo velho que já não serve mais, sem ao menos perguntar: “Tudo bem?” Algumas vão perceber e vão partir vendo a gente como problema; umas nem vão se importar; outras vão ficar já no início. Raríssimas vão ser aquelas que ficarão até o fim, estarão presentes nas nossas quedas e recaídas.
Dói ter medo de tudo ao nosso redor, dói ter medo de si. Porque sozinho ninguém aguenta essa dor por muito tempo. Eu não me lembro do dia em que eu acordei e tudo desabou na minha cabeça, o dia em que as pessoas que eu amava foram embora.
Eu daria a vida para escrever outra história, mas eu não posso, a única coisa que eu posso é colocar uma vírgula e seguir em frente, com outro final, uns personagens a menos e um sorriso verdadeiro. Porque ninguém precisa passar por isso sozinho. Peça ajuda!
Por: Luciana Fernandes
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