Os pais são capazes de tudo para ver os seus filhos felizes e realizados, mesmo que isso implique deixarem alguns dos seus próprios sonhos para trás. Contudo nós, enquanto filhos, nem sempre temos essa noção.

Francielle Silvano Cardozo é uma mulher brasileira que decidiu homenagear o seu pai, Manoel, com um emotivo texto após este conseguir finalmente concretizar um dos seus sonhos – terminar a faculdade.

Segundo Francielle, tudo começou num jantar que nunca mais se irá esquecer onde perguntou à sua mãe, Janete, ao seu pai e à sua irmã, Laine, quais eram os seus sonhos, ao que estes responderam que era ser professora, trabalhar num emprego que fosse limpinho – já que este era torneiro mecânico e, por fim, ter um marido, filho e cachorro, respectivamente.

Contudo, ao longo dos anos, tanto a sua mãe como a sua irmã conseguiram ir concretizando os seus objectivos, enquanto que o pai acabou por se manter na mesma para que estas realizassem os seus sonhos. Aliás, uma das suas frases mais ditas era: “O pai dá um jeito”.

“(…) a única coisa que ele queria fazer era terminar a faculdade.”

Infelizmente, Manoel acabou por sofrer um enfarte e, havendo a possibilidade de não vir a recuperar, Francielle voltou-lhe a perguntar se existia algo que gostaria de fazer. Feliz pelo sucesso da sua esposa e das suas filhas, a única coisa que ele queria fazer era terminar a faculdade.

Após uma cirurgia realizada com sucesso, concorreu a uma prova ao qual passou para poder regressar e terminar o ciclo médio onde apenas 100 mil de 500 mil pessoas entraram . Agora, ciclo médio terminado, conseguiu finalmente entrar na Universidade do Extremo Sul Catarinense para estudar Letras.

O orgulho de Francielle não podia ser maior ao que decidiu por isso publicar um texto na sua página do Facebook em homenagem ao seu pai terminado com a frase:

“Agora é a nossa vez de dizer! Vai, nós damos um jeito”!

Esta é a sua publicação:

“Há muitos anos atrás, numa janta, perguntei para o pai, a mãe e a Laine quais eram seus sonhos.
A mãe tinha o primário na época, praticamente só sabia ler e escrever, ela disse que queria ser professora.
O pai tinha até a quinta série, era torneiro mecânico, disse que sonhava em ter um emprego que fosse limpinho, sem graxa.
A Laine era pequenina, queria ter um marido, um filho e um cachorro.
Essa conversa provocou lágrimas.
Minha mãe fez supletivo público do ensino fundamental, fez o ensino médio na escola pública normal, na mesma época que eu, passou em dois vestibulares, cursou Ciências Biológicas, tem duas pós graduações.
Ela é professora há 20 anos.
Minha irmã também se formou professora de biologia e é pós-graduada. Casou, tem um marido, um filho do coração, só falta o cachorro (apesar de que ela vive pegando os da rua e deixando na casa do pai, do sogro, hehe, anda com ração e água no carro alimentando os bichinhos).
Eu não lembro qual era meu sonho, mas sei que vivi mais coisas e cheguei onde jamais havia sonhado.
O pai ficou na graxa pra gente poder realizar todos os nossos sonhos. A frase de sempre foi:
_ Vai, o pai da um jeito.
As vezes era um jeito meio torto, mas dava certo.

Aí veio o infarto e uma outra conversa, um pouco difícil, que eu disfarcei o possível pra parecer natural:
_ Pai, o pai tem alguma pendência, alguém que queira falar, algo que queira fazer, algum perdão a pedir ou a dar?
E a resposta :
_ Olha filha, não, tá tudo certo. Vocês estão todas bem encaminhadas, a mãe se vira bem também. Nada pendente, só que tem algumas coisas boas que eu ainda quero fazer.
Cirurgia…
Recuperação sofrida, porém rápida.
E a prova do ENCCEJA para conclusão do ensino médio (fundamental concluiu no CEJA) no periodo pós-operatório.
Ele não abriu mão de fazer, o dia inteiro, quatro provas e redação.
Nossos corações apertados.
500 mil brasileiros inscritos.
100 mil passaram.
Ele passou.
Agora chegou a nossa vez de dizer:
_Vai, nós damos um jeito! ”