Acordei meio cansada. Cansada de prender o choro, de contar as novidades, de comprar um vinho e convidar os amigos porque está tudo bem. Cansada de ser forte.
Dormi nua. Tirei as roupas e as máscaras junto, mas precisei recolocá-las pela manhã: uma calça meio surrada, um sapato confortável e um disfarce de gente feliz – feliz o tempo inteiro. Gente que tem a obrigação de ser agradável.
Passei a pensar demais sobre o mundo. Isso é meio arriscado porque a gente acaba enxergando demais – e, uma vez desvendados os nossos próprios absurdos, não se pode voltar atrás. Talvez a ignorância seja mesmo uma bênção – não se dar conta da crueldade com que eventualmente o mundo é capaz de nos tratar. E vendo que o dia amanheceu ensolarado, a certeza: está nublado por aqui.
Acordei meio cansada das minhas próprias escolhas.
Só por hoje eu não quero decidir absolutamente nada – açúcar ou adoçante, bossa ou rock’n roll, bom dia ou f*da-se?
Não quero ser compreendida. É só mais uma obrigação que dá muito trabalho. Só por hoje, não vou me esforçar pra ser amada. Que nada seja dito ou pensado ao meu respeito: hoje só me cabe existir.
Acordei meio perdida em meio aos tabloides, às pessoas, à confusão urbana que se confunde estranhamente com a minha própria confusão. Não vou escolher uma playlist: toquem o que quiserem. Não vou pensar sobre as pessoas: sejam exatamente o que quiserem. Hoje, só por hoje, não quero conclusões.
Quero passar despercebida, como numa capa mágica de invisibilidade.
Quero quase não existir até conseguir me ajustar a esse medo de ser eternamente desajustada. Não quero deadlines ou compromissos ou sorrisos ou explicações. Só por hoje quero coexistir passivamente e sem qualquer resquício de indignação. Minha alma precisa de férias.
Por: Nathalí Macedo