Ela é só mais uma mulher no meio de tantas outras a entrar no comboio das nove e meia, porque é teimosa e quer ir e voltar do seu destino todos os dias pelo próprio pé ou comboio ou carro ou seja o que for, desde que seja dela, sem homem nenhum como taxista ou guarda-costas.
Ela tem aquele jeito independente e tantas vezes irritante de fazer as coisas. Faz questão de ganhar o seu próprio dinheiro e dividir a conta do jantar.
Prefere ver o bom velho cavalheirismo, que toda a mulher no fundo gosta de ver mesmo que prefira não admitir, quando ele abre a porta do restaurante e a deixa passar primeiro, não é preciso ter um segundo pai que lhe pague as contas.
Opções dela, não discutas.
Ela quer ser alguém na vida. Ainda não sabe bem o quê ao certo, talvez advogada ou economista ou, quem sabe, professora. Mas sabe que quer chegar ao topo, quer que perguntem pela doutora em vez de por ela e quer alcançar todo o seu sucesso sem favores especiais ou delicadezas exageradas só por ser uma mulher bonita.
Quer receber elogios quando acerta e ouvir um sermão quando erra, e quer sofrer as consequências de cada acção sua na pele, pois, assim, quando acertar sabe que o mérito é dela e de mais ninguém, sabe que o valor que sente ter é real e não uma mera ilusão de falsas simpatias.
Ela vai saindo e namorando, mas ainda não vê um casamento ou filhos no seu futuro. Talvez um dia veja. Afinal, ela até acha algumas crianças adoráveis. Mas por agora não as quer como suas, ficam bem onde estão, no colo das mães delas. Porque a maior atrocidade que ela podia fazer, tanto a ela mesma como a todos os envolvidos, era ter filhos fruto de solidão, carência ou sentido de obrigação em vez de amor como acontece a tantas e tantas coitadas.
Algumas desistem dos cursos universitários com que sonhavam desde pequenas, outras deixam de trabalhar na área que adoram, outras abdicam dos pequenos prazeres da vida como ir para a praia correr à noitinha ou ouvir música numa qualquer discoteca até o sol nascer.
É uma pena e um desperdício.
Ela sente-se verdadeiramente triste quando sabe destas situações, aquelas em que as mulheres são mães não por vontade delas, mas por vontade dos pais, do marido ou da sociedade.
Quem diz que mulher tem de ser “mulher de” ou “mãe de” para ser mulher? Quem diz que lugar da mulher é em casa dentro de uma cozinha? Lugar da mulher é onde ela bem entender, onde ela for genuinamente feliz, quer esse lugar mágico seja com os filhos e o marido, quer seja com as amigas e um ou dois amigos especiais que ela vai vendo de tempos a tempos.
Sim, qual é o problema de uma mulher que não quer um relacionamento sério? Se bem me lembro os homens que são assim recebem palmadinhas nas costas, aplausos e o título de garanhão. Mas as mulheres… Ui, as mulheres que admitem gostar de sexo casual ou relacionamentos abertos são umas desenvergonhadas.
Que escândalo.
Mulher é para casar com o homem com quem perde a virgindade, ter quantos filhos deve ter e ficar por ali, não precisa de estudos, trabalho, diversão nem dignidade. Para quê? Isso é para os homens. Habituem-se.
Por: Raquel Simões