Porque as vezes não damos o real valor e importância a nossa vida e a dos outros.
Acordamos todos os dias de manhã, muitas vezes levantámo-nos da cama a correr, vestimo-nos, engolimos o pequeno-almoço a mil a hora, saímos de casa a correr, por vezes mal falamos com a nossa família, e voamos para o trabalho, passamos o dia com o pensamento em mil e trezentas coisas, até que regressamos a casa a casa prontos para a rotina habitual, tratar da casa, dos filhos, do jantar… e no dia seguinte? Volta tudo ao mesmo, tudo igual, exactamente igual… Até que um dia tudo muda, e bate-nos à porta algo trágico que nos faz acordar para a vida e para a realidade.
E só aí é que pensamos no que é realmente importante, no que vale mesmo a pena, e no primeiro impacto choramos, gritamos, berramos, desesperamos e questionamo-nos: porquê? Porquê eu? Porquê ele/ela? Porquê esta situação?…
Pois, porquê?
Olhamos para todos os lados e não encontramos respostas nenhumas, procuramos soluções e não as encontramos em nenhum canto, aí é que nos caí mesmo a ficha e reavaliamos toda a nossa vida e percebemos que muitas vezes e muitos momentos não aproveitamos bem a vida, as pessoas e os bons momentos que ela nos ofereceu, percebemos que muitas vezes apenas existimos e coexistimos como pessoas e com outros seres humanos sem nunca nos apercebemos da sua real importância na nossa vida.
Só depois do mal nos bater a porta é que nos consciencializamos que não acontece só aos outros, que nós também somos humanos e também pode acontecer algo a nós mesmos.
Muitas vezes nós erramos, e por vezes chegamos mesmo ao ponto de desvalorizar até a nossa própria vida, por exemplo: quantas vezes estamos ou vamos atrasados para o trabalho ou para alguma coisa que achamos que é muito importante e conduzimos de uma forma mais perigosa e agressiva, com pouco cuidado pondo a nossa vida e a dos outros em risco? Será que essa coisa seja trabalho, carreira, ou outra coisa qualquer é assim tão mais importante do que a nossa própria vida? Será?
Será que vale mesmo a pena por tudo em causa?
Muitos pensam que viver é um dado adquirido, mas viver é muito mais do que estar vivo, por vezes percebemos que estamos a andar depressa de mais e que já perdemos muita coisa naquilo que vivemos.
Eu também já fui e pensei assim, até que a seis anos atrás tudo mudou, o bicho feio, cobarde, sem escrúpulos e sem sentimentos do cancro decidiu que queria ser o mauzão da história do meu sobrinho, e decidiu o atacar silenciosamente o meu menino, o meu anjinho com apensas cinco meses de vida, ele não merecia, ninguém merece, é verdade, mas ele tão inocente não merecia mesmo ter de passar por tal sofrimento, mas infelizmente teve de o passar, transfusões, quimioterapia, convulsões, exames e mais exames, internamentos e tratamentos, ele sofreu, por muito que quiséssemos ninguém podia estar no lugar dele e trocar todo aquele sofrimento com ele, assim ele passou por tudo “sozinho”.
Ele foi um guerreiro e um herói, lutou contra tudo e todos mas no fim venceu, hoje é uma criança feliz e saudável.
Com esta situação aprendi algumas lições e algumas coisas boas, hoje sei que que por vezes nos só damos mesmo valor a vida e as pessoas quando corremos o risco de as perder, hoje dou muito mais valor a vida e a cada momento, a cada palavra e a cada abraço, vivo um dia de cada vez, não faço muitos planos para o futuro, hoje sei que o mais importante é o aqui e agora, aprendi que vale mesmo a pena para um pouco e passar mais tempo de qualidade com aqueles que mais amamos, aprendi a olhar para a vida com olhos de ver e a relativizar alguns problemas.
Hoje infelizmente sei que esse filho do demónio, esse monstro do cancro continua o mesmo cobarde e fracassado do costume, que continua sem escrúpulos e sentimentos, sem se arrepender de nada do que faz, ele não tem vergonha de nada, nem respeita ninguém sejam novos os velhos e não tem educação nenhuma, é um ser desprezível e não me venham dizer que é muito feio falar mal de algo ou alguém porque é só isso que ele merece, odeio e vou odiar sempre essa criatura.
Ele parece corajoso e grande mas não é, corajosas e grandes são as pessoas que lutam e o enfrentam, podem ter medo e receio, chorar e sentirem-se mal, mas sim elas são mais fortes, são pessoas de coragem, são heróis e heroínas que não se deixam amedrontar, e vão a luta e não desistem.
Hoje olho para o meu pequeno herói e digo para mim mesma, se ele conseguiu passar por tudo aquilo eu também consigo passar por qualquer mau momento.
Sei que mesmo quando tudo parece desmoronar, vale a pena lutar e acreditar, se há um problema o mais importante é resolve-lo da melhor maneira e nunca ficar quieto a espera de ver no que vai dar, há que tentar tudo primeiro e nunca desistir, sei que nem tudo vai ser um mar de rosas, que por vezes o sofrimento é muito e temos mesmo de passar por ele, nem sempre vai dar para manter um sorriso e o optimismo, por vezes podemos ir a baixo, cair e querer desistir, mas também temos de nos lembra que hoje existe cura, é tudo possível acontecer, o importante é prevenir e assim toda a gente vai a tempo, vale a pena lutar e acreditar, a esperança é a ultima a morrer.
Ele foi capaz, eu sou capaz, tu és capaz, eu sei que sim, tu és mais forte e sei que no fim vais vencer, sim vale mesmo a pena acreditar e lutar por um novo amanhecer.