Perdoem-me todos aqueles que são crentes, religiosos, católicos e coisa e tal. Acreditar que Deus, seja ele qual for, leva as pessoas para perto de si quando acha que é o momento, sendo essa a forma mais fácil de explicar uma morte, é porque nunca perdeu alguém de uma forma incrivelmente cruel.
Perdoem-me todos aqueles que se baseiam nessa crença para aliviar a dor ou para que esta seja mais facilmente superável. Desde quando Deus, que dizem ser omnipresente e omnipotente, permitiria que crianças e jovens, ou até mesmo pessoas de meia idade – mas ainda com tanto por viver – perdessem a vida de formas tão hediondas? Não seremos todos, afinal, filhos de Deus?
“(…) mas não me peçam para acreditar que há vidas que se perdem por um bem maior.”
Compreender que, agarrando-nos a algo inexplicável, seja mais fácil ultrapassar o sofrimento, até posso compreender, mas não me peçam para acreditar que há vidas que se perdem por um bem maior. Não me peçam que acredite que crianças são sacrificadas para que entrem num mundo pleno de sonhos cor-de-rosa. Isso é demais para mim.
Perdoem-me todos aqueles que se aguentam agarrados a essa condição. Talvez seja eu a estar errada. Talvez haja, de verdade, qualquer pequena coisa que faça todo o sofrimento valer a pena. Sendo otimista, porque o sou, espero que sim. Espero que nada tenha sido em vão. Espero que os poucos anos de vida de muitos sejam recompensados numa qualquer outra dimensão.
“E se há coisa pela qual devemos lutar, é por justiça.”
Mas não me venham chapar na cara que “Deus assim o quis”. Se Deus quer levar pessoas porque pensa ser melhor para elas, eu prefiro o pior para mim.
Que me perdoem os crentes, mas não creio que isto seja justo, tanto para os que vão, como para os que ficam. E se há coisa pela qual devemos lutar, é por justiça. Mesmo que seja a última coisa que façamos. E, se morrermos a lutar, que seja porque nos arriscámos a tudo e não porque Deus assim o quis.
Perdoem-me.
Imagem de capa: sun ok, Shutterstock