Os confinamentos e a ausência de contacto humano deles decorrentes fizeram disparar a venda de produtos de sex shop. De acordo com um relatório do Grand View Research, ao longo de 2020, o mercado dos sex toys valorizou-se em 33,64 mil milhões de dólares e parece não vir a mostrar sinais de abrandamento dado que se, entre 2021 e 2028, o estudo prevê uma taxa de crescimento de 8,04%.
Estes dados são corroborados por um outro relatório, desta feita da empresa de marketing research Technavio, que antecipa que o mercado global de brinquedos sexuais deve crescer 9,83 mil milhões de dólares americanos até 2024.
Portugal: democratização e reinvenção
Este crescimento, fomentado em grande medida pelo aumento das vendas das sex shop online, estendeu-se, igualmente, a Portugal. Apesar de não existirem dados concretos, há relatos que as vendas de sex toys cresceram, entre 2019 e 2020, na ordem dos 600%, um número em muito capitalizado pela maior taxa de penetração destes brinquedos sexuais entre as mulheres.
Para este aumento do consumo de brinquedos sexuais no feminino contribuem diversos fatores. À cabeça está a emancipação da mulher, e do seu corpo, do papel subalterno e cheio de limitações que uma sociedade essencialmente patriarcal lhe tinha reservado e que se fazem refletir na ideia de prazer sexual enquanto “ofensa” à moral e bons costumes.
Esta primeira justificação liga-se a uma outra, a da diminuta oferta de produtos sexuais pensados exclusivamente para o sexo feminino que, nos últimos anos, acaba por ser contrariada pela entrada no setor de caras conhecidas do grande público como Cara Delevingne e Dakota Johnson.
Enquanto a primeira tornou-se numa investidora e co-proprietária da Lora DiCarlo, a segunda escolheu investir Maude, empresa ligada ao “bem-estar e saúde sexual” da qual agora é sócia. Aliás, o papel de Dakota Johnson nesta democratização do prazer sexual já vem de 2015, altura em que protagonizou o filme “Fifty Shades of Grey”, tido como um dos responsáveis pela abertura dos sex toys ao grande público e, em particular, às mulheres.
Se às mulheres acaba por pertencer uma quota-parte da boa fortuna do setor em Portugal, as razões para o crescimento deste mercado no nosso país não se ficam por aí, como revela Pedro Correia, CEO & Senior Partner da companhia portuguesa Refixe – que também detém duas lojas físicas para além da sex shop online Vibrolandia.com, numa entrevista que concedeu à EAN em março deste ano.
O responsável refere que, durante o atual estado pandémico, “o mercado erótico teve a oportunidade de se reinventar, transitar para o online ou reforçar a sua presença neste canal”.
Uma reinvenção que passou, igualmente, pelo aumento das ofertas que redes sociais adultas, como o Only Fans e conteúdos pagos semelhantes, disponibilizaram e que acabaram por resultar num expressivo aumento no seu número de seguidores.
Segundo Pedro Correia, “as pessoas tiveram tempo e oportunidade para pesquisar e informarem-se sobre a forma de como os sex toys podem melhorar a sua vida, seja fazendo parte de um casal ou estando a sós” a que acresce o facto de não ser seguro ter encontros ocasionais ou de curta duração, o que, na ótica do responsável da Vibrolandia “provocou também uma maior procura de sex toys”, nomeadamente os “teledildonicos e os sugadores de clitóris”.
Apesar da sex shop em Lisboa (loja física) da Vibrolandia já estar aberta ao público, Pedro Correia sublinha o importante papel do online e da social media em ajudar a empresa não só a conquistar novos clientes, mas também a que estes “tomassem conhecimento do site e dos produtos, e para que conseguissem ter um maior e mais próximo apoio ao cliente”.
Isto significou, por exemplo, a abertura de um novo serviço de entrega, na área metropolitana de Lisboa, para os clientes das lojas físicas possam ter o mesmo prazo de resposta como se fossem a uma loja física.
“Parte dos clientes habituais aumentaram a frequência e quantidade de encomendas, especialmente aqueles que estão em teletrabalho”, frisa o responsável antes de concluir que “toda a gente tem um smartphone, e isso encurta a distância social e física”.
O smartphone e o online podem, como refere, Pedro Correia, “encurtar a distância social e física”, mas é inegável que vida, tal e qual a conhecíamos, deu uma cambalhota de 180º graus com a pandemia, até nas áreas em que as “cambalhotas” fazem parte do dia-a-dia, como o sexo.
As medidas restritivas limitaram o convívio social e atiraram os solteiros para um jejum forçado, mas não se pense que foram apenas estes os únicos e grandes afetados. Também os casais, que fruto da pressão e ansiedade trazidas pela pandemia virama sua normal vida sexual afetada, como se comprova pelos inúmeros relatos de ausência de intimidade vindos de diversas clínicas espalhadas pelo país.
Tudo isto somado e aliado à procura do prazer através da descoberta e auto-conhecimento sexual, nos quais os brinquedos sexuais podem ter um papel importante – ideia que tem sido defendido por vários especialistas na matéria, acabou por revelar um maior interesse dos portugueses pelos sex toys durante a pandemia.