Você acreditaria em mim se eu dissesse que por mais que tente não pensar mais você, de vez em quando o seu rosto volta aos meus pensamentos? E sabe o mais louco? Essa é uma carta que você não lerá. São apenas palavras escritas por mim que não chegarão até você. Porque, afinal de contas, nós mal nos conhecemos, não é? E essa é a maior loucura de todas. Nossas conversas foram rápidas, rasas, poucas. Mas eu te observo de longe há algum tempo e foi durante as minhas observações que esse sentimento brotou no meu peito. Infelizmente, uma flor acabou nascendo e estou no processo de arrancá-la pela raiz. Por isso comecei essa carta dizendo que estou tentando não pensar mais em você, pois meu lado racional sabe que isso não tem fundamento. Quando digo a palavra isso, refiro-me á paixão boba e adolescente com a qual você me presenteou sem ao menos se dar conta.
Escrevo tudo isso muito envergonhada, mas é que sonhei com você noite passada e eu tinha que escrever sobre você. Estou com o rosto vermelho, as mãos tremendo, o coração saltando dentro do peito e uma vontade enorme de saber seu endereço para poder te enviar essas palavras que não farão o menor sentido para você. Mas estou ciente do quão maluco é gostar de uma pessoa que não conheço muito bem. Eu sei dos riscos, abismos e dos ciscos nos olhos que me fazem chorar sem querer. Porém, te observando e te acompanhando, percebi que você se encaixa naquele ideal de pessoa que eu gostaria de compartilhar a vida debaixo da mesma casa. E queria eu que nossos olhos se cruzassem no meio da rua. Eu sabendo quem era você e você não sabendo quem eu sou. Eu logo perceberia o quanto gostaria de andar de mãos dadas com você e amaria ir até o mercado para comprarmos alguma coisa para almoçarmos no domingo.
“Você é uma das poucas pessoas que já vi conseguirem se entregar totalmente ao seu propósito de vida (…)”
E quanto mais eu olho para você, vejo suas atitudes altruístas, seu comprometimento. Tudo isso me cativou. Você é uma das poucas pessoas que já vi conseguirem se entregar totalmente ao seu propósito de vida e vivê-lo integralmente, mesmo tendo diversas consequências que devem ter te feito chorar. Mas você mantém seus olhos no futuro e você carrega no peito tanta esperança de que ficará tudo bem. Você é uma das pessoas que exalam muita fé por onde passa, por isso queria sentir o seu cheiro e te procurar no meio da multidão.
Moço, perdoe a minha insensatez, isso de fato me envergonha muito, mas é que por essas e por outras coisas gostaria de ser aquela que você chamará de namorada, noiva, esposa e mãe dos seus filhos. É loucura querer isso? Sim. Muita! Porque em alguns relacionamentos onde as pessoas conversam e se conhecem por anos acabam terminando, pois existe a chance de não darem certo e terminarem em decepções, frustrações e sofrimento. Mas eu me lembro de casos onde pessoas que conheço disseram que quando viram seu cônjuge pela primeira vez, não sabendo quem eles eram, às vezes sequer sabiam seus nomes e da onde vinham e mesmo assim já sentiam que casariam com aquela pessoa. E por mais estranho que pareça, de vez em quando me ocorre essa mesma sensação. Como se a gente já se pertencesse mesmo sendo dois corpos separados pela distância de milhas e mais milhas. Como se já tivéssemos compartilhado nossos medos, sonhos e segredos, quando isso nunca aconteceu.
Todavia, sou apenas uma garota como outras que talvez sentem o mesmo por você, pois hoje em dia ter um homem como você é quase um milagre deste século. E foi por causa disso que decidi abrir mão desse sentimento maluco e sem fundamento. Acionei meu lado racional e disse a mim mesma que vou te arrancar de dentro de mim. Sabe aquela flor da qual falei no começo dessa carta? Eu vou pegá-la, tirá-la daquela pétala e jogá-la no vento enquanto eu choro minhas últimas lágrimas por ti. Não me leve a mal, querido. Eu ainda gosto de você, e uso a palavra gosto porque tenho medo de usar outra e acabar me apegando. Mas eu preciso mesmo seguir a minha vida sem esperar você me procurar com os olhos no meio da multidão. Quisera eu que você também cultivasse em segredo a mesma sensação de que sou a pessoa certa para você, mas naquela nossa última conversa, eu temo que você tenha me visto apenas como mais uma menina, como mil outras que já viu por aí.
“Eu parei um pouco de ver fotos suas, evito ouvir sua voz.”
Assim, eu termino esta carta dizendo que já comecei a pedir a Deus que tire do meu coração todo sentimento que cultivei por ti. E há alguns dias comecei a sentir uma diferença e acho que estou conseguindo superar. Eu parei um pouco de ver fotos suas, evito ouvir sua voz. Por mais que no fundo eu ainda acredite que você é o tipo de cara por quem esperei a vida toda, mas não fazia ideia de que você era meu tipo porque eu não sabia que essas características eram o que sempre quis. É uma pena. Realmente uma pena. Pelos menos é o que acredito agora enquanto não supero totalmente a sua barba rala, o seu sorriso de dentes alinhados perfeitamente e a sua empolgação quando fala do que mais ama.
Esse é meu adeus, ou pelos menos, um até logo. Não quero mesmo criar expectativas e nem esperanças, mas se você for para mim eu sei que um dia nossos caminhos irão se cruzar sem nenhum esforço do meu próprio braço. Eu sei que você vai gostar de mim sem eu tentando chamar sua atenção. Vai falar comigo sem eu puxar assunto contigo. Eu sei que sim. Mas também sei que se você conhecer a garota sortuda que será sua para sempre, meu coração já estará curado e recuperado. Eu te desejo tudo de bom como eu disse na nossa penúltima troca de palavras curtas. E que o seu espírito sempre prevaleça sobre seu corpo quando desejar desistir de tudo pelo qual vem lutando nos últimos anos. Cheguei às palavras finais e termino dizendo que: algum dia lembrar-me-ei de você sem nenhum peso.
Por: Tatielle Katluryn