Tu queres alguém. Todos queremos.
O problema não é querer, é não saber enxergar quando se tem.
A vida dá um milhão de inacreditáveis sinais. Até irrita saber que muitas vezes simplesmente ignoramos. Às vezes por querermos tanto apenas aquilo que queremos e o que julgamos bom para nós, ao invés de valorizarmos o que temos e o que a vida nos dá; às vezes pela insistência idiota em enxergar migalhas de qualidades em pessoas que nos dão gigantes pedaços de dor.
A vida é cliché, mas não é previsível.
Isso quer dizer que é verdade aquilo de que “o que passou, passou”, mas nunca sabemos como vai passar.
Sabes aquela pessoa que não presta, mas que tu insistes em dar atenção? Ok, vamos especificar um pouco: sabes aquela pessoa que só visualiza as tuas mensagens mas que tu insistes em continuar a conversar? E aquela que parece que te exclui dos planos e tem sempre uma desculpa para as tuas ideias sobre o que fazer no fim de semana? Aqui temos duas possibilidades: 1) tu continuando a fazer o que podes para convencer esta pessoa de que lhe queres bem; 2) tu percebendo que mereces muito mais do que isso, que mereces alguém que te faça sentir como tu sempre fizeste toda a gente sentir-se, que mereces viver partes boas da vida já que a coleção de partes ruins já está cheia.
E como é que isso acontece?
Talvez começando a reparar nos sinais que a vida te dá.
Pensemos na essência do viver: a vida não é baseada na tua rotina de trabalho, casa, estudo, fim de semana, raiva da segunda-feira, trabalho, casa, fim de semana, raiva da segunda-feira, etc. A vida é baseada em acordar, tomar um bom café, vestir uma roupa que se gosta, colocar uma música boa nos fones, ler um bom livro na ida para o trabalho, dar o melhor no trabalho, ter uma volta tranquila, reservar um horário para a família e amigos, todos os dias até ao fim de semana chegar e aproveitá-lo como mais se desejar, agradecer pela folga, preparar-se para a segunda-feira, lembrar-se dos sonhos para realizar e de como tu precisas de te dar bem no trabalho para isso acontecer, acordar na segunda, tomar um bom café e por aí vai.
Muito mais que momentos, a vida é feita de segundos.
E é dentro de um segundo despretensioso que pode acontecer o like daquela pessoa naquela tua selfie, é dentro de um segundo que pode estar um: “olá, vamos fazer algo hoje?”, é dentro de um segundo que pode estar o “ok, vamos!” depois do “olá, vamos fazer algo hoje?”, é dentro de um segundo que pode estar aquele elogio surpreendente e genuíno ao invés de só uma palavra qualquer para chamar a atenção. Ufa! São tantos segundos que vivemos, tantas chances para aproveitarmos, tantos sinais que a vida dá, antes de nos dar alguém.
Dentro deste raciocínio cabe a ti pensares: Será que estás a perder o teu tempo com quem não quer aproveitá-lo contigo ou estás a saber aproveitar o teu tempo com quem gostaria de poder viver algum dele a teu lado? Ou seja: tens corrido atrás de quem não corre atrás de ti ou agora tens corrido ao lado de quem sempre correu atrás de ti?
É muito cómodo culpar a vida pelas coisas não darem certo.
“Já entendi que o meu destino é sofrer”, “só conheço gente que não presta”, “a vida não vai muito com a minha cara”, “eu nem me lembro da última vez que fui feliz”. São tantas reclamações que entendo como deve ser difícil ver alguma coisa boa no meio disso tudo. Mas acredita: há. Sempre houve. Sempre haverá.
Tu sabes que lá no fundo a vida tem-te dado um monte de sinais, como se dissesse: “vem por aqui para seres feliz”, mas tu preferes ignorar e ir na direção do “quero insistir, vá-se lá saber se ainda vai dar certo”. Tu sabes que já ignoraste muitas pessoas ao mesmo tempo que davas atenção para outras que, por sua vez, te ignoravam.
Presta mais atenção nas mensagens que te respondem do que nas que te ignoram.
Não me digas que o teu argumento é aquele de que “a gente gosta mesmo é do difícil”. Se fosse assim seríamos eternos apaixonados pelo trânsito de todos os dias, pelo metro lotado, pelo aumento que nunca vem, pelo cabelo que acorda uma bosta e, bem, convenhamos que não é verdade. “Ah, mas isso de difícil é mais no sentido sentimental”. Ok, então seríamos eternos apaixonados por mensagens ignoradas, por agressões, por desconfiança, por traição… nossa, amaríamos ser traídos! Uau, como gostamos do difícil! Não me venham com essa! Nós gostamos mesmo é de ser felizes, só precisamos de ir aprendendo a lidar com os meios de o conseguir. Desse modo, é inteligente saber enxergar, repito, os sinais que a vida dá antes de te dar alguém. Existe alguém dentro desses sinais. Talvez não alguém que morrerá ao teu lado (ou sim?), talvez não alguém como aquele tipo que tu costumas gostar (ou passará a ser?), mas alguém disposto a provar-te que tu não és só mais um alguém.
Por: Márcio Rodrigues