Tu conheces alguém. Sais com essa pessoa uma ou duas vezes. Gostas da conversa dela, do beijo dela, dos olhos dela. Convida-la para um segundo ou terceiro encontro. Nada mais natural, afinal de contas, tu gostaste daquela pessoa. Mas ela congela, foge, desaparece da face da Terra. Provavelmente acredita piamente que tu estás loucamente apaixonado(a) por ela como nunca estiveste por outra pessoa. E isso é uma das coisas mais irritantes que acontecem durante a nossa constante tentativa de conhecer alguém: algumas pessoas pressupõem que tu estás sempre atrás de compromisso.
Quando tu convidas alguém para sair com interesses românticos na pessoa, nada é garantido. Vocês podem sair de lá como melhores amigos, podem odiar-se, podem querer apenas sexo, podem amar o outro a ponto de marcar uma viagem para a próxima semana. Mas isso é determinado durante os encontros, durante a construção de alguma coisa entre os dois.
Essa construção nem sempre designa um relacionamento sério.
Conheço casais que estão há tempos nessa de conhecer o outro. Eles saem juntos, assistem a filmes na casa do outro, comem pizza com os amigos e ambos são felizes. Isso só aconteceu porque um deles – ou os dois – quebraram a barreira do “quero ver-te de novo” que todo o mundo tem medo de dizer depois de um encontro bem sucedido.
Nós criamos uma utopia tão grande e tão congelada em torno do que é relacionar-se que acabamos por acreditar que todo o relacionamento tem que seguir um molde fixo de encontros-namoro-casamento e seja lá o que vier depois disso. Não é assim, gente. Nesta vida tu vais conhecer pessoas maravilhosas com quem o sexo era incrível e apenas isso. Tu vais conhecer pessoas incríveis com quem tu passarias anos sem trocar beijos, porque amizade também nasce de encontros. Tu vais encontrar gente que só depois de 5 ou 6 meses é que vai apaixonar-se por ti, ou nem vai.
Descartar encontros agradáveis por medo, ou melhor, por pressupor que a outra parte esteja loucamente apaixonada por nós é burrice.
Na maioria das vezes, a pessoa só gostou de ti e quer conhecer-te melhor, sem pretensão alguma de te pedir em casamento. Mas ao invés de seguirem o fluxo das coisas e deixarem tudo acontecer naturalmente, muita gente coloca barreiras. Cismam que o outro já planeia casar e ter filhos, cismam que o outro é algum tipo de pessoa louca e psicopata que quer trancar-nos dentro de celas minúsculas em porões inexistentes. Será que as pessoas não percebem que o caminho natural de todo e qualquer relacionamento é a sucessão de encontros? Caso não percebam, sugiro que mudem os vossos perfis de conversa e parem de dizer que estão a querer “conhecer alguém”. Porque é exatamente isso que estão a negar-se a fazer.
Por: Daniel Bovolento