Perdi todo o controlo do meu coração e da minha alma. Perdi parte da minha essência que tão orgulhosamente carregava comigo todos os dias como perfume. Perdi-me em ti, em nós, naquilo que pensava ser a melhor coisa que me tinha acontecido. Tinha fé que eras tu que me ias dar a mão em todos os momentos, que ias ser tu a carregar-me contigo em cada passo que davas. Deixaste-me para trás como quem vê um cêntimo e não recua para o apanhar.
Não me carregaste contigo como prometeste. A minha energia contagiante foi embora contigo a partir do minuto que me deixaste e o meu maior medo é que não volte. Engana-se quem diz que ter um coração partido é uma fase, porque não é. A marca que fica, a mágoa, a dor, essa fica para sempre guardada apesar de pensarmos que não. É tudo pura ilusão. Nós habituamos-mos a essa dor, a esse aperto no peito. Mas lá por nos termos habituado não significa que tenha passado e que não esteja lá. Não é uma fase, é uma passagem.
Ter-te perdido é a dor insuportável que carrego comigo todos os dias no caminho para o trabalho, para casa, para o café.
Ter-te perdido é a completa dormência que sinto.
Estou vazia. Esperei dias e dias por uma mensagem tua, uma chamada, algo mais esclarecedor do que as mensagens escritas que me enviaste. Não recebi nada e mentalizei-me de que não iria receber. Mas a dor… essa continua presente e a marcar território, bateu o pé e recusa-se a sair. É ridículo querer-te desta maneira já sabendo eu que não mereces metade do que fiz por ti. E o pior é que voltaria a fazer, voltaria a dar-te tudo de mim.
Perdi-me quando me perdeste e eu quero tanto encontrar-me novamente. Não quero mais pensar em ti, não quero mais sentir saudades daquilo que não volta. Estou cansada de ter o peito apertado e um nó na garganta como se ainda houvesse muito mais por dizer, mas não há. Foi tudo dito ou, pelo menos, foi tudo necessariamente dito. Que vazio. Não nego que me sinto leve, solta, livre. Mas sinto-me tão presa a ti ao mesmo tempo e eu só quero rasgar esse laço, porque assim me obrigas. Não me quero mais assim.
Eu consigo viver sem ti, consigo ser feliz sem ti.
O problema está no tempo que não passa, no vento que não te leva embora daqui.
Quando fores embora, de vez, eu vou ser feliz e sei bem o quanto o mereço. Que tudo o que fiz por ti venha para mim com ainda mais amor do que aquele com que te entreguei tudo de mim. Vai-te embora, de vez. Ainda não foste mas sabes que tens que ir. Não vivo do passado nem de capítulos mal escritos. Não vivo de ti. Vivo de mim, do que sou e do que tenciono ser. Vivo do que quero, do que tenho. E mesmo já estando mentalizada aparece sempre algo que me relembra de ti para me infernizar a cabeça.
Hoje passei por um rapaz que estava a usar o mesmo perfume que tu usavas, sabias?
Lembrei-me do teu cheiro.
E parte de mim só queria correr atrás daquele rapaz para o cheiro não se ir embora mas tu foste embora e levaste o teu cheiro contigo.
Foste embora e levaste tudo o que eu tinha, tudo o que te dei. Era tudo tão simples quando estávamos nos braços um do outro em silêncio. Foi tudo pura ilusão e eu nunca vi isso a tempo e agora já vou muito tarde. Perdi-me quando me perdeste e isso não se faz a ninguém. Não viste? Não viste todo o amor que te dei, todos os sacrifícios que fiz por ti, tudo o que tive que aguentar sozinha quando estavas demasiado ocupado agarrado a outras pelas discotecas? Perdi-me quando me perdeste e só quero encontrar-me, recuperar o que era antes de te conhecer. Lembro-me como eu era feliz e tenho saudades, sabes? Passava os dias a rir-me, ia sair à noite, tomava café com as minhas amigas em belas tardes de sol. E depois ficou tudo cinzento, desfocado, triste. Será que me podes devolver? Eu quero-me de volta e tu não precisas de mim para andares ao engate pelos melhores bares da cidade, pois não? Devolve-me. Entrega-me a mim mesma. Não me obrigues a ir ao meu próprio encontro. Devolve-me. Traz de volta a minha essência. Não me desperdices, por favor! Deixa-me em casa e segue o teu rumo. Não demora nada, prometo-te. Deixa-me em casa e volta para perto das tuas novas conquistas femininas.
Devolve-me agora porque honestamente eu preciso mais de mim do que tu alguma vez irás precisar de alguém.
Entrega-me hoje porque eu amo-me mais a mim mesma do que tu algum dia irás amar alguém.
Perdi-me quando me perdeste mas o que é verdadeiramente nosso sempre volta e, hoje, eu volto para mim mesma porque de ti já não preciso mais.
Por: Letícia
Imagem de capa: Kaponia Aliaksei, Shutterstock